segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Roupas do Morto

É por aí que começa...

São nelas que eu penso quando vejo as 27 estrelas da Bandeira do Brasil...

Penso nas roupas do morto... Porque? Pelas mesmas razões que há tantas formas de se escrever "porque". Pelas razões que o Silvio Santos arrumou o terno depois que caiu na água da piscina. Que se recebe um diploma da universidade. De quando se vai às urnas votar. Quando estamos em reuniões de natal. Quando dizemos que em tal lugar só tal tipo de pessoa entra. Nas horas em que sentimos vergonha de falar algo errado. Sempre que dividimos o bolo em pedaços diferentes. Nos novos empregos promissores. No design moderno dos automóveis. Nos computadores de ponta. No mal estar da mancha na camisa. No excesso de gloss. Na meia calça furada. No tombo gravado. Na palavra incorreta. Nos nossos sorrisos e desejos. Na argumentação. Nos espelhos.

E às vezes lembro do morto.

sábado, 7 de agosto de 2010

As Coisas que Gosto

Naquela hora em que bate a vontade de ficar sozinho, naquele momento em que nos sentimos ETs ... uma coisa que sempre vem à mente é um profundo: "Ninguém me compreende!!". Ele vem forte, é um grito lá do nosso íntimo... que só nós escutamos e que às vezes nos faz chorar, às vezes nos faz sentir bem... mas acima de tudo nos caracteriza como únicos... e para falar dessa idiossincrasia minha, coloquei para esta palavra complicada um texto simples... as coisas que gosto... e lá vai...

Por muito tempo achei que eu gostava da beleza simplesmente por ser bela... e realmente gosto... mas aos poucos percebi que certas coisas bonitas perdiam o encanto... porque havia alguma coisa além da beleza... algo que estava na minha forma de ver... até que ouvi uma idéia que me esclareceu isso que eu não entendia... era algo assim: se há uma mulher bonita, vejo beleza... mas se para haver uma mulher bonita foi preciso haver uma criança com fome, então já não vejo beleza, mas sim pobreza. Eu sei que nós nascemos em um mundo desigual... eu sei que quando nasci, as favelas já existiam e não me sinto culpado pela existência delas... nem nunca me preocupei com isso de fato... apenas um sofrimento que nunca se concretizou em atos... uma vontade de ajudar da qual nunca me senti apto, e nas vezes em que estive apto nada fiz... mas tendo feito ou não, a pobreza continua lá... ela está entre nós... não desapareceu... e todos nós já fomos ajudados um dia, sabemos a importância de ajudar... eu por hora não pretendo arrumar um plano para resolver tudo isso... mas apenas quero lembrar para mim mesmo e para todos que estão lendo... há um problema social refletido na forma de pobreza que precisamos resolver... não nos esqueçamos disso...
O meu gostar neste caso, refere-se à percepção e sensibilidade em relação à isso... o meu gostar neste momento é ver que sou diferente de muitos que além de não se importar, fazem questão de aprofundar este problema... ora dizendo que não sabem o que fazer, ora dizendo que as coisas são assim mesmo, ora dizendo "mas esse papo é muito chato", "estou ocupado demais"... creio que precisamos crescer neste aspecto... e é evidente que podemos ver riqueza no mundo, ter carros de luxo e todas estas coisas... porém antes podemos e devemos pensar no mundo, uma vez que ajudar o pobre é ajudar a si mesmo, ainda que de forma egoísta, pois a pobreza do mundo são parte de nós mesmo, da nossa omissão e são nossa vizinhança... obscura... deflagrando nosso egoísmo...

Em segundo lugar, sei também que quase ninguém nasceu para estudar, para ser inteligente... ou melhor, em geral as pessoas querem ter um trabalho, querem ter uma profissão, mas não é de interesse geral ser um pensador sobre o que quer que seja... por exemplo... em qualquer área há o que se pensar... se o ramo é lixo.. há diversas maneiras de se coletar lixo, de se tratar... então há muito que se pensar nisso... há máquinas à se construir... enfim, o lixo é um exemplo de algo que parece simples e não é ... mas o que eu gosto é de pensar... minha dedicação à vida é pensar... eu sou músico, sou psicólogo, mas essas profissões são apenas reflexo do meu pensamento... quem me conhece de perto sabe que eu não gosto de ler... mas isso não significa jamais que valorizo a burrice, mas sim que valorizo o conhecimento prático... porque muita gente se utiliza de livros para se achar melhor que os outros... e isso não é interessante... não no meu ponto de vista... eu apenas tenho prazer em ser inteligente, e ler (ainda que pouco), e estudar física, química, matemática, psicologia, biologia, gramática, informática... o que quer que seja, independentemente da minha formação... não faço cara feia para coisas complicadas, não tenho orgulho como as pessoas tem de dizer "não entendo nada disso"... gosto de conversar sobre essas coisas em detrimento do futebol, sobre o tempo, sobre as fofocas de quem casou, separou, vai casar, ta namorando, ta trabalhando, viajou, se formou e pãns... e neste quesito me sinto bastante sozinho pois vejo que todos estudam, mas poucos refletem ou conversam sobre o que sabem... em geral acham a reflexão cansativa. Já me torturei muito por querer que os outros fossem como eu e hoje apenas quero ser reconhecido por isso, pela minha forma de ser, e quero que ser visto com carinho a esse respeito. Devemos sim acreditar num planeta em que as pessoas consigam ser feliz e expontâneas, vulgares ou medíocres, mas que o sejam por opção... e não como é hoje, em que vemos corjas de imbecís "fabricados" por uma sociedade porcamente organizada. E essa corja no caso não tem classe social, nem idade, nem nada... Por vezes encontramos mais vergonha na cara em um mendigo que em um advogado ou político.

Gosto também da simplicidade... o normal de hoje é transformar uma formiga em um pavão... para que apareça e chame a atenção de todos... para que seja algo chamativo, que faça estrondo... e eu prefiro mais o simples... o básico... sentir a realidade, sentir o toque verdadeiro, sentir o elogio desinteressado... porque o normal é tudo ter preço... o normal é tudo ter um interesse... o normal é a gente conseguir algo dos outros. Isso para nós seres vivos é algo importante, mas diante do universo e de toda sua extensão, não passa de uma mesquinhez. A nossa finitude neste amplo e gigantesco mistério em que vivemos revela que sentir-se mais importante é uma bobagem "humana". As enchentes, doenças, o sol, a lua... são a verdadeira natureza do mundo que se apresenta sem distinção à todos, e que limita a vida do mais bonito ou mais feio, do mais rico ao mais pobre, a uma vida "humana" cheia de diferenças, porém "universalmente" identica... finita, passageira, efêmera, e todas as palavras que nos fazem sentir pequenos diante da imensidão.

Gosto também, e neste caso creio que a maioria como eu também gosta, do amor verdadeiro. E assim todos nós buscamos isso. Porém a gente já nasceu num mundo que explica onde ele está. E a verdade é que onde o mundo diz que está, não o encontramos. No máximo encontramos prazer, poder e aventura no mundo. Mas não amor e verdade. Amor somos capazes de sentir na ingenuidade, na simplicidade, na honestidade... gestos de bondade nos fazem chorar, palavras de força nos fazem crescer... uma criança que recebeu um abraço sincero é capaz de amar... o resto é egoísmo, objetos, é poder, posse... coisas muito interessantes que nos fazem seres vivos mas não amor... e o amor que eu procuro é este que não está escondido em lugar nenhum, não está perdido, não tem preço nem nunca foi comprado ou vendido... foi apenas esquecido... desaprendido... um sentimento que está quando somos capazes de nos orgulhar de si mesmo e dos que nos cercam. E hoje precisamos dar motivos para sermos orgulho uns dos outros, e consequentemente fazermos boas ações e nos preocuparmos com fatos reais ao invés de buscarmos um amor que venha nos fazer esquecer nossas frustrações, nossos erros e esquecer que o mundo é este que aí vemos.

Por fim queria dizer que são muitas palavras, mas que em atos são poucos... simplicidade, inteligência, cooperação... há de fato muitas coisas mais, mas por hora este é um desabafo, de idéias que tenho sempre, e nunca falo com ninguém por achar que não interessa... mas algo me disse para escrever isto, porque o silêncio tem feito com que muitos de nós passemos a vida cheios de vontade de viver, porém abafados pelos interesses do dinheiro, do poder e essas coisas que desviam nossos rumos... por hora só posso dizer que há pessoas inteligentes querendo um canal de diálogo que hoje não existe, mas que nós podemos construir isso, devemos, e temos que superar as dificuldades que estão sendo impostas pela atual ordem das coisas no mundo !!

Por hora não tenho a pretensão de ser um modelo a ser seguido, não quero ser exemplo nem nada. Quero apenas encontrar as pessoas que já pensam como eu, ou que pensam coisas parecidas. Eu sei que somos poucos, mas existimos... estamos isolados, mas precisamos nos encontrar!

É isso aí

Zenzinho