segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Natureza Perdida

É preciso manter a cabeça no lugar
quando o que se mais precisa é um simples copo de água
e ele acaba de se espatifar na sua frente

Simplicidade sempre
ainda que ninguém entenda mais a simplicidade

troque seu celular novo por um mais antigo
troque seu computador novo pela geração anterior
troque seu carro novo por um usado
troque os kits de maquiagem pelo seu rosto verdadeiro

faça uma revolução na sua vida
troque a idéia de ficar rico por viver em paz
troque a vontade de ser famoso por fazer algo com perfeição ainda que ninguém fique sabendo
troque seu conforto particular por um mundo de igualdade
abandone a sociedade e descubra suas próprias idéias

algumas sociedades escolhem um ponto de vista para se viver
e todos tem que viver, ainda que discordando, neste ponto de vista
outras sociedades aceitam diversas formas de pensamento simultâneos

algumas pessoas escolhem fingir que não estão vendo a vida passar
outras escolhem encarar que nosso destino é a morte
outras escolhem ir ao shopping e namorar

troque tudo
sem medo
troque seu egoísmo pelo heroísmo
troque sua glória pela humildade
troque sua culpa pela responsabilidade
troque sua astúcia pela sabedoria
troque seu fim de semana perfeito numa ilha deserta com seu amor
por um dia debaixo da fumaça de algum tunel
troque o perfume francês por um projeto de limpeza de um rio poluído

abandone o ideal de riqueza
abrace a intensidade sem limites da simplicidade do seu coração
você é capaz de sentir alegria ao ver o mundo ao seu redor melhorar
somos capazes de contribuir sim
não espere os políticos
não espere um messias
não espere por Deus
nem acredite nos signos

corra atrás
abandone agora mesmo este caminho que te ensinaram como o melhor
todos os caminhos terminam no fim da vida
toda a vida, rica, burra, linda, infeliz... morre
tudo termina como se nunca tivessemos nada
a casa que você compra hoje
continuará depois da sua vida
alguém vai morar nela
você não é dono dos objetos
eles estavam aqui antes de você
e continuarão após sua morte
assim como nesse chão o qual você pisa hoje
já foi terreno desabitado milhões de anos atrás
já teve outro dono, já foi de tanta gente
e assim como já se passaram 5 bilhões de anos
outros 5 bilhões virão mais adiante
e daqui 5 bilhões de anos, quando sequer existir o planeta terra
e que todo mundo que hoje consideramos inesquecíveis
até eles já terão sido esquecidos
no dia em que a idéia de vida como a conhecemos
será algo que jamais concebemos
esqueça
perca tudo que tens
perca a idéia de que algo pode ser perdido
acredite, nada pode ser conquistado
nem a sombra, nem o corpo, nem nada será eternamente seu

troque a idéia de posse por qualquer outra coisa
troque a vontade de ser famoso para ser feliz
troque a idéia de ser rico para ser feliz
troque a idéia de encontrar alguém que te faça feliz
simplesmente descubra antes o que é ser feliz

troque tudo
troque agora
pense pelo menos uma vez na vida
que algo aparentemente pior, pode ser melhor
quando o problema é uma garrafa vazando a melhor saída é uma rolha nova
e não uma nave espacial que vai até a lua
acredite no simples
observe o óbvio que está diante de si
observe o quanto todos mentem uns para os outros
observe quantas vezes nós também temos mentido
e veja que já perdemos até o hábito da verdade
e veja que muitas vezes já nem sabemos mais o caminho da verdade
temos apenas setas dizendo: suborne aqui, mais barato ali, ganhe lá
troque tudo isso
não pague mais nada
não compre mais nada
não ganhe mais nada

não duvide que há mais verdade dentro de si que no mundo
não acredite que o mundo existe
nem pense que vai para o céu
nem que irá reencarnar
troque tudo isso
troque tudo isso, sim
troque tudo isso por algo que não te contaram
troque por algo que ainda não está escrito
porque se você leu e concordou
faltou o ato mais importante da nossa vida
pensar sem ler
acreditar sem saber
acredite no que você nunca leu sobre
acredite nas coisas que não estão em nenhum filme
imagine o que seria do mundo se ninguém tivesse dito nada
imagine a vida como seria se você tivesse nascido sozinho no meio do nada
e fosse a primeira vida do universo a exercer o ato de pensar
o que será que é tudo isso?
o que é aquela coisa lá no céu?
o que é isso que eu sou?
se é que sou
apenas troque
torne-se do avesso
seja uma bagunça que nunca se arruma
aceite algo de detestável que há em si
jogue um balde de mel na cabeça
estoure um travesseiro de penas
fique parecendo uma galinha
saia na rua falando com as pessoas
e se pergunte
afinal, o que é tudo isso?

domingo, 24 de outubro de 2010

Três Momentos

Primeiro

"A propriedade é a parte de uma família e a aquisição de uma propriedade, parte da arte de dirigir uma família; pois nenhum homem pode viver bem, ou mesmo viver, a menos que atenda às próprias necessidades. Assim como nos ofícios em que existe uma esfera definida os trabalhadores costumam ter os próprios instrumentos para a realização do trabalho, assim também é a administração de uma casa. Os instrumentos são de vários tipos; alguns são vivos, outros inanimados; o capitão de um navio usa um leme sem vida, mas um homem vivo como observador; pois o trabalhador num ofício, é do ponto de vista do ofício, um de seus instrumentos. Assim, qualquer parte da propriedade pode ser considerada um instrumento destinado a tornar o homem capaz de viver; e sua propriedade é a reunião desse tipo de instrumentos, incluindo os escravos; e um escravo, sendo uma criatura viva, como qualquer outro servo, é uma ferramenta equivalente às outras. Ele é em si uma ferramenta para manejar ferramentas." (Aristóteles, A Política)

Segundo

"É preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. Os homens começam com medo, coitados. E terminam em fazer o que não presta quase sem querer. É medo. [...] Medo de muitas coisas. Do sofrimento. Da solidão. E, no fundo de tudo, medo da morte." (O Auto da Compadecida – Ariano Suassuna)

Terceiro

"A má-fé é uma defesa contra a angústia e o desalento, mas uma defesa equivocada. Pela má-fé renunciamos à nossa própria liberdade, fazendo escolhas que nos afastam do projeto fundamental e atribuindo conformadamente estas escolhas a fatores externos, ao destino, a Deus, aos astros, a um plano universal." (Sobre o existencialismo de Sartre)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mecanismos a Dois

O homem chega em casa depois de ter saído com os amigos. Encontra a mulher esperando. Pelo olhar ele sabe que ela imagina que ele estava com outra e que irão brigar até que ele se explique. Então ele pensa em não dizer nada. Se ele disser “oi” a briga começará. Por outro lado, não falar nada fará com que ela entenda que ele não dá mais atenção à ela e então pensará mais ainda que ele tem outra. O jeito é falar “oi”, porém não mais que isso. Uma frase curta é melhor. Significa apenas um contato e não um diálogo. Ele está cansado e não quer um embate agora. Então ele se arrisca e diz “oi”.

Por dentro há uma torcida gigantesca implorando que ela só responda “oi” e não dê o inevitável ataque de ciúmes. É um “oi” diplomático, um pedido de paz. E são poucos os segundos de quem se esquiva dentro de si tentando calar o tempo e acreditar que a resposta será confortável e pacífica. Ela muito bem poderia dizer: “Ficou até tarde bebendo com os amigos, não é? Vem aqui que estou com saudades!!”, mas não. Ela nunca fez isso e creio não irá começar hoje.

Ela então começa a mover os lábios em camera lenta. O movimento vai se tornando palavras até que surge um som: “oi”.

Ótimo! Foi um excelente começo. A pausa após o “oi” foi recebida com aplausos de toda a torcida que comemora o primeir gol desta partida. “Aonde você estava?”. Pronto! A pergunta veio. E agora é como se em um segundo, aquele “um a zero” virasse um “três a um” pra ela!

É óbvio. Agora começa uma disputa pela razão. A briga clássica mundial. O homem típico, a mulher típica, a pergunta que há milhões de anos soa em toda e qualquer relação. A saída? A forma também clássica: omissão!

Há muitas formas de se dizer que se chegou tarde porque saiu com os amigos. Porém umas pioram as coisas, outras simplificam. Neste caso buscamos paz. Então evitaremos a palavra “cerveja”. Dizer “cerveja” será como atirar uma bomba atômica na bandeira branca, fazer as malas e partir. Cerveja significa que ele estava se divertindo, rindo alto, falando de mulher e comentando com os amigos da vagabunda que ele está “comendo”. Não! Esta palavra não pode ser dita. Ela precisa imaginar uma cena inócua. Ela tem que pensar que não era um bar e sim uma igreja. E não eram amigos, mas um encontro de padres. Padres discutindo sobre a bondade, o amor, qualquer tema puro e limpo enquanto fazem um bolo de chocolate. Citar nomes dos amigos? Nem pensar! Ela não conhece a metade e os que conhece não dá um real de confiança.

Talvez fosse hora de mentir. Porém mentir o fará sentir culpado e a culpa para quem não está acostumado a mentir persegue os sonhos e os momentos de solidão. A mentira é só para casos extremos. Uma saída suicida para o desafio da vida. Omissão. Essa sim! A forma honesta de não dizer onde estava. Mantém o homem íntegro, a família unida, garante a paz e com sorte uma transa antes de dormir.

Ele diz:”Fiquei um pouco mais pois precisávamos tratar mais alguns assuntos”. E claro, ela não ia cair nessa, então não custa nada virar o jogo e mudar de assunto. Nada de perguntas pessoais que a faça se lembrar o tempo que permaneceu ali parada esperando. Pelo contrário. Algo que atrapalhe a obsessão dela em crer que há outra mulher. Esboçar carinho é interessante porém sente-se cansado e se oferecer, terá que dar. Mas o clima da rua, o trânsito tensionam seu corpo e o melhor remédio era um grande ofurô com águas quentes e sua gata dizendo: “Vem aqui comigo, joga suas coisas em qualquer lugar que vou te fazer uma massagem”. Mas não. Isso não vai acontecer. O assunto precisa mudar.

Béeeeeé, béeeeeé, béeeeeeé... Subitamente dispara o alarme da casa. Ele nem pensa em bandido. Passa na frente dela, aquele som alto, os dois se destraem enquanto aquilo não pára. Ele aperta mil senhas erradas propositalmente. Deixa o assunto morrer. Olha pra ela como quem está se esforçando ao máximo. Ela com os dedo no ouvido. “Pronto”. Ele olha pra ela. Sem jeito diz que vai mandar consertar o alarme trocando de vez a pauta central para uma nota de rodapé. Foi a melhor coisa. Ao passar diante dela... era como se tivesse ultrapassado a barreira que os separava. E o pensamento agora já se misturou com o sentimento daquele som alto ensurdecedor.

Ele agora vê uma gata desprotegida. Sorri para ela. Ela sutilmente retribui. Ele chega perto, passa a mão pela cintura, olha nos olhos, beija e ao pé do ouvido diz num tom profundo e intenso: Eu te amo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Liberdade Moderna

Vou falar agora sobre pequenos fatos que fazem do Brasil um país não democrático e mais que isso, escravista.

Primeiro de tudo gostaria de advertí-los para uma diferença do "estar livre apenas das correntes" e o "estar livre de fato". Algumas vezes simplesmente por não termos mais correntes amarradas ao corpo, por não sermos Índios ou Negros como eram os típicos escravos da colônia, não nos sentimos escravos. Porém certas situações nos fazem escravos sem amarras.

Um exemplo histórico, acontecido em vários lugares do globo e não só aqui, foi o fato de muitos imigrantes que vieram ao Brasil, tornaram-se escravos por dívida.

É uma situação simples de explicar, você põe uma arma na cabeça de uma pessoa e pergunta se ela quer viver. Simples porém horrível.

Para você escravizar alguém por dívida, a arma é: emprestar dinheiro da qual a pessoa jamais será capaz de pagar. E não é só isso. Você também precisa criar nela a esperança de que irá conseguir pagar. Aí você é questionado: então, você vai pagar o que me deve ou prefere ser preso? Fica entre o "ruim" e o "pior ainda"!

Para isso você se aproxima da ingenuidade da pessoa somado à alguma situação que a deixe sem saída. No caso daquela época, muitos estavam vivendo na Europa em péssimas condições e viam no Novo Mundo, vulgo Américas, uma saída para seus problemas. Eram muitas promessas de uma vida nova, uma forma de apagar o passado sujo de alguns, entre outras coisas. Então faziam um acordo no qual pagariam a viagem trabalhando quando chegassem em terra.

Chegando aqui, logo descobriram que foram ingênuos e que não estavam no paraíso, e mais, nada havia mudado. Continuavam sem autoridade pelas próprias vidas numa situação de uma dívida que nunca se acabaria e seriam eternos devedores. Por mais que travalhassem, o ganho nunca seria capaz de pagar o que deviam, tornando-se escravos por dívida.

Há um detalhe. Devedores políticamente corretos. Escravos assegurados pela lei, pelo acordo feito entre ambos.

É importante lembrar que há leis injustas. Leis que não observam o ser humano como ser pensante, com direito à vida.Ambos buscavam vantagem no acordo. Porém o acordo no decorrer da realidade, demonstrou que só um teria vantagens. E uma vez que esta lei beneficia um lado, este se negará aos efeitos negativos causados aos outros. Ou melhor, o legislador não vê maldade em si porque entende que o “escravo por dívida” ESCOLHEU aquilo. Não há revisão de contrato.

Este escolher não passa de um truque que engana os nossos sentidos e nos livra da CULPA que deveriamos sentir por colocar nossos iguais em situações de desigualdade.

Dito isto, quero falar agora que este raciocínio continua em voga.

Dizem que vivemos numa Democracia, em uma República, que a lei emana do POVO! Porém estamos cercados de idéias de escravidão.

O Povo, é verdade, VOTA, Ele pode escolher. Mas é OBRIGADO a escolher. O voto é obrigatório. Veja a contradição inerente deste ato. Por um lado ele te dá liberdade. Por outro, paradoxalmente, te obriga a ser livre. Um pássaro obrigado à voar não é um pássaro livre.

Nós pagamos IMPOSTOS. Somos livres para pagar algo que nós é IMPOSTO! Creio novamente vivermos um paradoxo. Se você é imposto não é livre.

Mas agora o que eu quero que fique claro, mas muito claro, é o SENTIMENTO que temos, o sentimento que nos faz sentir que fomos obrigados a fazer algo. Que não basta mudar a PALAVRA para resolver isso. Não basta mudar de IMPOSTO para TAXA.

O importante de se observar é que nos sentimos roubados ao pagar os IMPOSTOS. Este sentimento de ser ROUBADO é a prova real de que somos apenas escravos. Porque pagamos por um governo e percebemos que se não tivessemos pago nada teríamos dinheiro para o hospital que não vemos quando esse dinheiro é empregado em impostos.

Pagamos através do imposto para termos hospitais gratuitos os quais não vamos e em consequência pagamos de novo quando vamos à um médico particular para suprir à falta do primeiro. Esse duplo pagamento está em toda nossa vida. Pagamos através do imposto pela escola pública a qual não utilizamos e pagamos em dobro para ver nossos filhos em colégios particulares, longe do ensino negligenciado das escolas públicas atuais.

Somos ingênuos. Pagamos tudo em dobro. Quando não o TRIPLO!

Você paga através do imposto pela polícia do governo e tira do seu bolso o segurança particular da sua rua e pelos alarmes dos carros e casas. Ahhh, e em quarto lugar, pelo SEGURO do carro e da casa. Veja só, tudo isso que você paga em quatro contas diferentes são a evidência de que nosso sistema anda mal. Se há violência é porque há maus tratos. O homem mal tratado se rebela. E isso significa rebelar-se contra nós mesmos.

E a consequência final desta liberdade moderna?

Ao longo da vida, conversando com as pessoas, vi que o pobre brasileiro vive numa contradição. Ele trabalha muitas horas do dia. Para crescer na vida sabe que precisa estudar. Para estudar precisa de dinheiro. O dinheiro do trabalho é todo voltado para as contas e necessidades básicas de alegria comuns à todos nós humanos, em geral resumidos em churrasco, passeios ao shopping e televisão, que são formas econômicas de fingir que se está vivendo quando na realidade se está parado observando o mundo. Afinal, olhar a TV e o Shopping não gasta dinheiro. Nem sexo. Prazeres econômicos são o lazer o povo. E para conseguir enfim o dinheiro dos estudos, ele trabalha mais, quando consegue. E quanto mais trabalha, mais fica sem tempo e então não pode estudar. Mas o fato é que na maioria das vezes, sequer consegue dinheiro para uma universidade. O típico brasileiro de classe popular hoje pagaria numa universidade algo proporcional à renda de toda uma família.

E são dentro de paradoxo como esse que fazem o brasileiro ESCOLHER não estudar. A palavra escolha nos dias atuais são a maior ESCRAVIDÃO jamais vivida.
Através da escolha que dizemos “dar” aos outros conseguimos enganar a nós mesmos que não os estamos manipulando.

O indivíduo sem educação é como uma criança pequena. Ela tem todas as capacidades para trabalhar, mãos, pernas, inteligência, raciocínio, mas ela ainda é só uma criança. É imatura, despreparada. Está sendo preparada. Ninguém é idiota de dizer que o bebê escolhe mamar ao invés de trabalhar.

E enquanto criarmos uma sociedade imatura, estamos criando uma sociedade de escravidão.

Uma escravidão que se constrói em leis paradoxais, em indivíduos fragilizados por sua condição existencial e com o aval da justiça, que bate seu martelo condenando inocentes com a grande mentira que é a preciosa, desejada e sonhada ESCOLHA! Mas a escolha verdadeira, sem manipulação! É esta que imploro que façam para que aconteça! E lutemos para vê-la acontecer!!

É isso!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pensamento Morto

Pesado como a morte física
Sufocante como a morte da alma
Bruto como a morte do espírito

o Pensamento Morto

O pensamento morre quando estamos com a razão, quando sabemos a verdade, e todos são contrários a nós

Quando vimos tudo o que aconteceu, dizemos toda a verdade, e alguém sarcásticamente ri, conta tudo ao contrário e leva a razão

E ele se dilacera por inteiro, quando você olha a realidade e já não conta mais com ela, porque sabe que não são objetos e fatos que a compõe, mas palavras, discursos, dinheiro, poder, interesses

Você sabe que se atropelar um pobre terá uma consequência diferente de atropelar um rico

Simplesmente sabe... você sente isso... você teme isso...

Você sabe que a justiça funciona de forma desigual

Você evita contar com ela diariamente

Você evita problemas porque sabe que é melhor não os ter que resolvê-los

E sabe que é possível estar diante de um juiz, ter toda a razão, e ainda assim ser condenado

Você se sente fraco... suas pernas vão amolecer... você verá a imagem dos fatos acontecendo em sua mente... sua cabeça olhará para todos os lados sem saber onde se agarrar... e fechará os olhos com força como se isso fizesse aquela verdade pular para fora de si...

Mas ela não pula

Seu pensamento morreu

E uma pessoa com medo evita viver

E não tem coragem de discordar

E trabalha todos os dias evitando olhar para os lados

E pensa dia após dia em chegar em casa e esquecer o mundo por um instante

E toma todas as atitudes possíveis para esquecê-lo

Um remédio para dor de cabeça, uma viagem, um cigarro, um porre, um vício qualquer... vulgo "sair pra se divertir"

Mas você sabe que foge, você sabe que não são remédios, é medo

Medo da razão que te tiraram e você fingiu que esqueceu

Ficou apenas o corpo se movendo para onde o mandam

Dizendo em voz alta que vai para onde quer

Mas sabe, a dor no peito deflagra... você não vai

E uma nação de pensamentos mortos é uma nação morta

Estamos mortos?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Esperança

Eu queria ter encontrado alguém
que tivesse largado tudo para batalhar pelos próprios sonhos
com o brilho nos olhos despertos pelo desejo sincero

e muitos disseram que viriam
e brindaram os novos planos
e quando descobriram que isso lhes tiraria o conforto
desligaram permanentemente a luz do olhar e não vieram

E também encontrei muita gente que vê a desigualdade do mundo
e que sabe como é infeliz passar de carro diante da pobreza
e sentir-se culpado por não poder fazer nada
ou no geral já nem sentir mais nada

muitos quiseram lutar contra isso
e levataram-se da mesa com o pulso firme pronto para a luta
e quando descobriram que isso lhes tiraria alguns privilégios
sentaram-se a pensar mais um pouco

E houve quem junto comigo reclamou do ensino
do monte de coisas que precisamos aprender e não nos ensinam
e de tantas outras inúteis que nos são passadas como as mais relevantes

E como sempre todos estavam motivados
com o corpo sedento de aprender a verdade
e descobrir a força do conhecimento de um mundo inteligente
até que na hora em que viram as pilhas de livros, entediaram-se

e quando afogados pelo trânsito
e quando sufocados por modelos de estética inatingíveis
e quando buscando algo que nunca encontram

estes também bradaram lutar pela própria vida, felicidade e pela liberdade
porque “desse jeito não dá para viver”
mas logo viram que alguém prometeu mudar tudo isso
sem a gente precisar mudar nada em nós mesmos
e decidiram esperar...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sapiens

Minha inteligência foi metralhada
estupidamente abalada
e já nem me lembro mais
aquelas palavras tortas
nem das linhas fatigadas

e o sentido ficou reto
consumível
linear
conexo
simples
e
patético

fiz-me entender
facilitei para não morrer
mas morri por me perder
e em estilo vulgar
em prosa inútil
e versos sem amor
advirto

não faça mais perder meu tempo contigo
esqueça que existo
esqueça como esqueceu teus livros
passe reto
não olhe nem pergunte
não ria de mim pois será ignorado
e ainda que eu morra sozinho
e nem que por tudo isso precise viver enclausurado
e com a mais sutil leveza de tudo que é relativo
creio do fundo do coração
estou certo e tu errado

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Roupas do Morto

É por aí que começa...

São nelas que eu penso quando vejo as 27 estrelas da Bandeira do Brasil...

Penso nas roupas do morto... Porque? Pelas mesmas razões que há tantas formas de se escrever "porque". Pelas razões que o Silvio Santos arrumou o terno depois que caiu na água da piscina. Que se recebe um diploma da universidade. De quando se vai às urnas votar. Quando estamos em reuniões de natal. Quando dizemos que em tal lugar só tal tipo de pessoa entra. Nas horas em que sentimos vergonha de falar algo errado. Sempre que dividimos o bolo em pedaços diferentes. Nos novos empregos promissores. No design moderno dos automóveis. Nos computadores de ponta. No mal estar da mancha na camisa. No excesso de gloss. Na meia calça furada. No tombo gravado. Na palavra incorreta. Nos nossos sorrisos e desejos. Na argumentação. Nos espelhos.

E às vezes lembro do morto.

sábado, 7 de agosto de 2010

As Coisas que Gosto

Naquela hora em que bate a vontade de ficar sozinho, naquele momento em que nos sentimos ETs ... uma coisa que sempre vem à mente é um profundo: "Ninguém me compreende!!". Ele vem forte, é um grito lá do nosso íntimo... que só nós escutamos e que às vezes nos faz chorar, às vezes nos faz sentir bem... mas acima de tudo nos caracteriza como únicos... e para falar dessa idiossincrasia minha, coloquei para esta palavra complicada um texto simples... as coisas que gosto... e lá vai...

Por muito tempo achei que eu gostava da beleza simplesmente por ser bela... e realmente gosto... mas aos poucos percebi que certas coisas bonitas perdiam o encanto... porque havia alguma coisa além da beleza... algo que estava na minha forma de ver... até que ouvi uma idéia que me esclareceu isso que eu não entendia... era algo assim: se há uma mulher bonita, vejo beleza... mas se para haver uma mulher bonita foi preciso haver uma criança com fome, então já não vejo beleza, mas sim pobreza. Eu sei que nós nascemos em um mundo desigual... eu sei que quando nasci, as favelas já existiam e não me sinto culpado pela existência delas... nem nunca me preocupei com isso de fato... apenas um sofrimento que nunca se concretizou em atos... uma vontade de ajudar da qual nunca me senti apto, e nas vezes em que estive apto nada fiz... mas tendo feito ou não, a pobreza continua lá... ela está entre nós... não desapareceu... e todos nós já fomos ajudados um dia, sabemos a importância de ajudar... eu por hora não pretendo arrumar um plano para resolver tudo isso... mas apenas quero lembrar para mim mesmo e para todos que estão lendo... há um problema social refletido na forma de pobreza que precisamos resolver... não nos esqueçamos disso...
O meu gostar neste caso, refere-se à percepção e sensibilidade em relação à isso... o meu gostar neste momento é ver que sou diferente de muitos que além de não se importar, fazem questão de aprofundar este problema... ora dizendo que não sabem o que fazer, ora dizendo que as coisas são assim mesmo, ora dizendo "mas esse papo é muito chato", "estou ocupado demais"... creio que precisamos crescer neste aspecto... e é evidente que podemos ver riqueza no mundo, ter carros de luxo e todas estas coisas... porém antes podemos e devemos pensar no mundo, uma vez que ajudar o pobre é ajudar a si mesmo, ainda que de forma egoísta, pois a pobreza do mundo são parte de nós mesmo, da nossa omissão e são nossa vizinhança... obscura... deflagrando nosso egoísmo...

Em segundo lugar, sei também que quase ninguém nasceu para estudar, para ser inteligente... ou melhor, em geral as pessoas querem ter um trabalho, querem ter uma profissão, mas não é de interesse geral ser um pensador sobre o que quer que seja... por exemplo... em qualquer área há o que se pensar... se o ramo é lixo.. há diversas maneiras de se coletar lixo, de se tratar... então há muito que se pensar nisso... há máquinas à se construir... enfim, o lixo é um exemplo de algo que parece simples e não é ... mas o que eu gosto é de pensar... minha dedicação à vida é pensar... eu sou músico, sou psicólogo, mas essas profissões são apenas reflexo do meu pensamento... quem me conhece de perto sabe que eu não gosto de ler... mas isso não significa jamais que valorizo a burrice, mas sim que valorizo o conhecimento prático... porque muita gente se utiliza de livros para se achar melhor que os outros... e isso não é interessante... não no meu ponto de vista... eu apenas tenho prazer em ser inteligente, e ler (ainda que pouco), e estudar física, química, matemática, psicologia, biologia, gramática, informática... o que quer que seja, independentemente da minha formação... não faço cara feia para coisas complicadas, não tenho orgulho como as pessoas tem de dizer "não entendo nada disso"... gosto de conversar sobre essas coisas em detrimento do futebol, sobre o tempo, sobre as fofocas de quem casou, separou, vai casar, ta namorando, ta trabalhando, viajou, se formou e pãns... e neste quesito me sinto bastante sozinho pois vejo que todos estudam, mas poucos refletem ou conversam sobre o que sabem... em geral acham a reflexão cansativa. Já me torturei muito por querer que os outros fossem como eu e hoje apenas quero ser reconhecido por isso, pela minha forma de ser, e quero que ser visto com carinho a esse respeito. Devemos sim acreditar num planeta em que as pessoas consigam ser feliz e expontâneas, vulgares ou medíocres, mas que o sejam por opção... e não como é hoje, em que vemos corjas de imbecís "fabricados" por uma sociedade porcamente organizada. E essa corja no caso não tem classe social, nem idade, nem nada... Por vezes encontramos mais vergonha na cara em um mendigo que em um advogado ou político.

Gosto também da simplicidade... o normal de hoje é transformar uma formiga em um pavão... para que apareça e chame a atenção de todos... para que seja algo chamativo, que faça estrondo... e eu prefiro mais o simples... o básico... sentir a realidade, sentir o toque verdadeiro, sentir o elogio desinteressado... porque o normal é tudo ter preço... o normal é tudo ter um interesse... o normal é a gente conseguir algo dos outros. Isso para nós seres vivos é algo importante, mas diante do universo e de toda sua extensão, não passa de uma mesquinhez. A nossa finitude neste amplo e gigantesco mistério em que vivemos revela que sentir-se mais importante é uma bobagem "humana". As enchentes, doenças, o sol, a lua... são a verdadeira natureza do mundo que se apresenta sem distinção à todos, e que limita a vida do mais bonito ou mais feio, do mais rico ao mais pobre, a uma vida "humana" cheia de diferenças, porém "universalmente" identica... finita, passageira, efêmera, e todas as palavras que nos fazem sentir pequenos diante da imensidão.

Gosto também, e neste caso creio que a maioria como eu também gosta, do amor verdadeiro. E assim todos nós buscamos isso. Porém a gente já nasceu num mundo que explica onde ele está. E a verdade é que onde o mundo diz que está, não o encontramos. No máximo encontramos prazer, poder e aventura no mundo. Mas não amor e verdade. Amor somos capazes de sentir na ingenuidade, na simplicidade, na honestidade... gestos de bondade nos fazem chorar, palavras de força nos fazem crescer... uma criança que recebeu um abraço sincero é capaz de amar... o resto é egoísmo, objetos, é poder, posse... coisas muito interessantes que nos fazem seres vivos mas não amor... e o amor que eu procuro é este que não está escondido em lugar nenhum, não está perdido, não tem preço nem nunca foi comprado ou vendido... foi apenas esquecido... desaprendido... um sentimento que está quando somos capazes de nos orgulhar de si mesmo e dos que nos cercam. E hoje precisamos dar motivos para sermos orgulho uns dos outros, e consequentemente fazermos boas ações e nos preocuparmos com fatos reais ao invés de buscarmos um amor que venha nos fazer esquecer nossas frustrações, nossos erros e esquecer que o mundo é este que aí vemos.

Por fim queria dizer que são muitas palavras, mas que em atos são poucos... simplicidade, inteligência, cooperação... há de fato muitas coisas mais, mas por hora este é um desabafo, de idéias que tenho sempre, e nunca falo com ninguém por achar que não interessa... mas algo me disse para escrever isto, porque o silêncio tem feito com que muitos de nós passemos a vida cheios de vontade de viver, porém abafados pelos interesses do dinheiro, do poder e essas coisas que desviam nossos rumos... por hora só posso dizer que há pessoas inteligentes querendo um canal de diálogo que hoje não existe, mas que nós podemos construir isso, devemos, e temos que superar as dificuldades que estão sendo impostas pela atual ordem das coisas no mundo !!

Por hora não tenho a pretensão de ser um modelo a ser seguido, não quero ser exemplo nem nada. Quero apenas encontrar as pessoas que já pensam como eu, ou que pensam coisas parecidas. Eu sei que somos poucos, mas existimos... estamos isolados, mas precisamos nos encontrar!

É isso aí

Zenzinho

terça-feira, 29 de junho de 2010

Dividido

Há momentos em que me sinto perdido...
triste às vezes...
ao mesmo tempo encontro a mim mesmo
e nessa hora sinto a paz do mundo...
sinto no meu corpo através dos sentidos

Quando me encontro desejo com toda força...
desejo exibir a flor que encontrei
um diamante perdido
E quando mostro...
olhares descrentes preocupam-se apenas com aquilo que já têm

E esta é minha mais duradoura e persistente existência
triste quando me encontro só... sem ser ouvido
feliz por me conhecer
de ser inteligente e coerente comigo

sábado, 12 de junho de 2010

A Solidão

A solidão é acima de tudo o sentimento de não pertencer a um grupo.
E isto pode trazer sofrimento ou não.

O solitário sofre quando cobra de si ter alguém, estar com alguém.
Sofre quando pensa que nunca teve alguém de verdade
quando olha para os outros e vê alegria
aquele monte de assunto jogado fora
e sua boca que há tanto não se abre

O solitário sofre porque não se sente compreendido
começa demonstrando seu conhecimento, sua habilidade, seu jeito único
e logo percebe que não foi notado
que ainda falta muito para os outros o entenderem de fato
e olha para si mesmo
e vê o quanto aprendeu e como não tem o devido valor

O solitário sofre quando descobre que passou anos se esforçando pela verdade
que dedicou seu tempo sendo o melhor no que faz
agiu da melhor forma, pensou nas melhores saídas
seguiu os melhores exemplos
e agora olha para si
e ve que um corpo bonito
uma pessoa rica
um charlatão
que todas estas coisas superaram sua competência
e a atenção alheia se volta para todas as coisas
menos para o verdadeiro
mantém-se nas aparências

O solitário sofre quando percebe que não consegue controlar o mundo
e que todos os seus atos caíram sem a menor dó
e agora fraco, teme enfrentar uma nova avalanche de críticas
ele então se afasta... busca força em si

O solitário se alegra quando está em casa
e ri de si mesmo, das coisas que pensa
quando vê um diálogo importante
se sente algo diferente
quando observa a beleza do mundo
quando faz algo com perfeição e se admira de si

A alegria vem nos diálogos inteligentes
na beleza esperta, convincente
no não convencional
no divergente

Vem uma alegria gostosa
quando se está com alguém e esta pessoa está contigo
e a distância não é razão de perigo, ciúmes

É gostoso estar diante da vida que passa sem voltar
e dessa existência de sentir o agora com a eternidade e beleza do efêmero

O solitário gosta de si... e às vezes se esquece dos outros
É bom conseguir dividir... é difícil, mas é possível

O solitário vê o outro lado das coisas
e às vezes é, infelizmente, hora de seguir algum caminho já trilhado

O solitário sonha com um mundo novo
uma nova perspectiva
um mundo que só existe na ausência de todos que o cercam
mas que certamente existirá quando todos puderem ver
ver a beleza da simplicidade de estar vivo
e encontrar graça na própria existência
o prazer real do toque
do "eu te amo" de quem realmente ama

O solitário tem uma missão
criar o mundo que ainda não existe
o mundo que dentro de si insiste
enfrentar a dureza dos corações sem medo
porque o coração não mente
e ser feliz é bem mais simples do que parece
sem nenhum segredo

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Um futuro Zen

O mundo está aí para vivermos
Apreciarmos a paisagem
Alegrarmo-nos com os momentos felizes
Encontrarmos carinho e amor

Mas... e se não estivermos aqui?
O mundo estará aqui?
O que são as ondas se não há quem as veja?
Pensando bem...

Estamos aqui para que o mundo nos veja
Seremos paisagem apreciada
A alegria das ondas por ter em quem bater
Para que ela encontre carinho e amor

Porque quando sentimos fome, comemos
quando sentimos sono dormimos

Acordamos porque dormimos
Dormimos porque cansamos
Cansamos porque esgotamos nossas energias
Ganhamos energia comendo
Comida são substâncias
Substâncias são moléculas
Moléculas são coisas bem pequenas que formam a matéria
Matéria que cria os planetas
Planetas que vagam no universo
Este criado pelo big bang
E este criado por Deus

Mas e Deus? Quem criou? Criou-se-se?
Se ninguém criou Deus ele sempre existiu
Mas como algo pode sempre existir se tudo que conhecemos veio de algum lugar?

É... existe o mar que nos vê... nós vemos o mar
Criando-se um ao outro, ao mesmo tempo
Como se tudo sempre tivesse existido...
Porque o exato instante que te vejo
É o mesmo instante que existo

E quanto mais perguntamos
Mais mistérios surgem
E ainda que hajam tantas respostas
Nós mesmos as inventamos
E quem sabe estejamos certos disso...

Zenzinho Jász