sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A certeza é um privilégio que não temos

Acordei como todos os dias pensando no trabalho e nas ligações que eu precisava fazer. Resolver alguns problemas. Estava escovando os dentes. Foi quando tocou o celular. Era uma pessoa em pânico. Não entendi nada, a voz estava trêmula e ela então disse: "Alô? Tem alguém aí?" - "Sim, o que que houve?" - "Acabou de estourar uma rebelião no presídio aí do lado, ligue a TV, tranque tudo que eles estão todos na rua"!!

Em pânico liguei a TV e nada... somente a voz ofegante no telefone... tremendo, tranquei toda a casa, fechei as janelas "Não tem nada na TV!"... e a voz respondeu "você tem certeza?"... eu disse "sim"... "primeiro de abril, seu besta! é o Fábio do escritório"... "porra cara, você me deixou em pânico"... "larga a mão de ser burro e olha o calendário"... xinguei ele até não poder mais... tempos depois me acalmei...

Fiquei então sentado na mesa, com aquilo na cabeça, remexendo o café por um longo tempo... até que me dei conta de uma coisa tão banal... eu havia sentido muito medo, mas muito medo mesmo... mas era mentira, não havia razão para ter medo. Eu não sabia que era mentira e vivi a mentira como se fosse verdade.

Parei assustado. Eu já pensei muitas vezes sobre a ilusão, mas desta vez me assustei. Fiquei num pânico maior que o anterior. Por alguma estranha razão imaginei que todo meu passado tivesse sido feito da mesma matéria que esta mentira que me foi contada. Pensei em tudo que vivi como verdade. Nas mentiras que contei e as pessoas que reagiram como eu reagi: acreditaram e se emocionaram com coisas que inventei. Assim como sabe-se lá quem mentiu para mim e eu acreditei e só hoje percebo isso.

Agora me torturo tentando saber o que de tudo que aconteceu foi verdade... e fica a dúvida...

Olhei para um copo de água na pia e pensei... "meu Deus, um perdido no deserto pode jurar que viu água quando na verdade esteve o tempo todo diante de alguma coisa no chão, um reflexo estranho que sei lá porque parece água, mas parece"

Então comecei a achar que tudo era ilusão e que todas minhas conclusões vinham da minha forma de ver... eu ouvi o desespero daquela pessoa ao telefone e eu sabia que ela estava certa... mas fui enganado... e posso estar sendo enganado agora nesse exato momento... mas por quem? por mim mesmo? pelos meus pensamentos? não sei... só sei que agora já não sei nem se aquele copo tem água... e não sei mais se a água é realmente água...

Mas e se tudo for ilusão? Quem criou isso? Eu? Deus? não sei... não consigo ver algo de concreto nisso tudo, acima de tudo porque se tudo é ilusão, como posso concluir alguma verdade de algo que nunca é de verdade?

E a verdade? essa que até 10 minutos atrás considerei verdade... ela continua aqui diante de mim. Real como sempre. O que dizer dessa realidade? Ela simplesmente me observa, calma. E eu vivo nela com toda a certeza que Deus me deu.

Quanto mais sinto a realidade, mais ela se mostra irreal, e quanto mais penso que a realidade é irreal, mais sinto que precisa haver algo de real na irrealidade. Precisa haver alguma verdade...

É certo que este copo está aqui... é certo porque estou sentindo... mas eu, naquele telefonema, senti aquela mentira como se fosse a verdade mais pura do mundo... maldita certeza que se foi... mas é certo então que isso tudo é irreal... mas como o irreal pode existir sem que haja uma realidade para o criar? droga de certeza que corrói...

Mas se tudo leva a dúvida, terei então que viver como? Preciso acreditar em algo...

Preciso ter fé em Deus... e como é difícil acreditar em algo que não se mostra...
Mas agora preciso ter fé também naquilo que vejo... este mundo que era tão verdadeiro acabo de perceber que preciso ter fé que ele existe... e ter fé que estou aqui... e ter fé que aquilo tudo era só uma brincadeira... e ter fé na ilusão... ter fé que a realidade se constrói com pó... e que a ilusão se constrói com o pó da realidade...

Talvez a certeza seja o único privilégio que não temos.

Alias, quem mexeu no meu calendário? 21 de janeiro? ahn?

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